O que nos prende ao outro

Entendendo as representações que criamos

4/14/20251 min read

red rose with green leaves
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Quando o outro representa algo dentro de nós

Em certos vínculos, o que nos prende não é só o afeto ou o costume. É algo mais invisível, mais profundo. Às vezes, nos ligamos a alguém de tal forma que essa pessoa passa a representar algo essencial para nós segurança, amor, valor, pertencimento.

Não estamos apenas convivendo com alguém. Estamos, muitas vezes, nos relacionando com partes nossas que projetamos nesse outro. É como se ele ou ela se tornasse o espelho onde tentamos enxergar quem somos ou quem gostaríamos de ser.

Por isso, quando pensamos em nos afastar, não sentimos apenas saudade ou medo do vazio. Sentimos também como se estivéssemos abandonando uma parte de nós mesmos. A parte que, naquele vínculo, encontrou algum tipo de sentido, resposta ou ilusão de completude.

Essa ligação pode ser tão forte que mesmo quando a convivência se torna difícil, desgastante ou até dolorosa, algo em nós ainda resiste. E essa resistência não é fraqueza. É sinal de que o outro está ocupando um espaço simbólico importante na nossa história interna.

Pode ser que ele represente uma figura que nos faltou no passado. Pode ser que, com ele, nos sintamos reconhecidos como nunca fomos. Ou ainda, que ele encarne algo que desejamos profundamente desenvolver em nós, mas ainda não conseguimos acessar sozinhos.

O processo de se desligar, então, não é apenas sobre “deixar alguém”. É sobre reconhecer o que aquela pessoa significou e, aos poucos, recolher essas projeções de volta para dentro de nós. É um movimento de resgate: trazer para dentro o que antes víamos apenas do lado de fora.

Isso não acontece de uma hora para outra. É um caminho delicado, mas necessário, para que possamos nos reconectar com nossa própria essência e parar de buscar fora o que só pode ser construído dentro.

No fim, o outro deixa de ser espelho e volta a ser pessoa. E nós, enfim, voltamos a ser inteiros.